domingo, 8 de abril de 2018

Os outros jogos da capital em um dia de final

Pacaembu recebeu jogo no mesmo horário que decisão do Paulistão ocorria

Menos de 40 pessoas presentes no Pacaembu em jogo simultâneo à final do Campeonato Paulista
 Por: André Carlos Zorzi

Às 16 horas do dia 8 de abril, Palmeiras e Corinthians se enfrentaram pela grande final do Paulistão 2018. E a bola rolou no estádio do Pacaembu.

Você não leu errado – a final foi disputada no Allianz Parque. Porém, ao mesmo tempo em que era dado o apito inicial na decisão, começava o segundo tempo de Centro Olímpico x Taubaté, válido pela 3ª rodada do Campeonato Paulista Feminino deste ano.

Enquanto todos os olhares estavam voltados para o clássico, a casa mais tradicional do futebol paulistano recebia uma partida de futebol, iniciada às 15h. Além disso, no decorrer do dia, mais duas outras ainda foram disputadas na cidade.

Foto tirada pouco depois de o Corinthians abrir o placar no Allianz Parque

Centro Olímpico 1 x 4 Taubaté
Nem parecia dia de jogo no Pacaembu. Ruas vazias e diversos vagas livres para estacionar automóveis na região. Os portões do estádio estavam fechado até cerca de 45 minutos antes do horário marcado para a peleja.

Na arquibancada, o público era inferior a 40 pessoas. A impressão que dava era de que eu e meus amigos Fernando (Jogos Perdidos), Mario e Milton éramos os únicos no local que não tinham algum familiar em campo, ou vínculo com os clubes ou a Federação Paulista.

Quem esteve lá assistiu a um passeio do Taubaté na etapa inicial. 4 x 0 com direito a um belo gol – e poderia ser mais, com a equipe perdendo outras chances de marcar. 

Estádio do Pacaembu alguns minutos antes do jogo (clique para ampliar)

As donas da casa tiveram uma ou duas boas oportunidades de gol. Apesar disso, o jogo estava bem movimentado.

No segundo tempo, a equipe do Taubaté ‘tirou o pé’. O Centro Olímpico cresceu em campo e chegou ao seu gol de honra. Depois disso, poucas emoções surgiram até o apito final.

Curiosamente, a equipe de policiamento responsável pela revista no jogo era a mesma que estava em outra partida na capital, ocorrida às 10 da manhã, na Rua Javari. 

“Vocês tiraram o dia só pra ver jogo?”, perguntou, rindo, um deles, quando nos reconheceu.

Barcelona 0 x 0 Mauá F. C.
Rua Javari não viu um de seus melhores dias
O dia foi histórico para a equipe visitante, que fez seu primeiro jogo válido por uma competição profissional.

Além disso, ele também marcou a estreia do ‘sétimo time’ da capital paulista na quarta divisão estadual (chamada oficialmente de Série B) deste ano.

O que se viu em campo, porém, não foi nada animador. Um jogo muito feio, com pouquíssimas chances de gol criadas, e que não foi merecedor das palmas ao seu término.

 Delegação do primeiro jogo da história profissional do Mauá F.C.

À exceção de um cabeceio próximo à meta (em lance que já estava impedido) no primeiro tempo, é difícil de lembrar algum outro momento em que a torcida tenha gritado “UH!”. Em duas ocasiões, a bola foi isolada para fora do estádio.

Ônibus que trouxe o time do Mauá à capital, estacionado em frente ao estádio - o dos torcedores estava logo atrás
A torcida visitante aparentava estar em maior número no estádio, o que pode ser explicado pelo ônibus gratuito disponibilizado pela diretoria do Mauá.

Portuguesa 1 x 4 São José
Também válido pelo campeonato feminino, a derrota lusitana foi mais um jogo ocorrido na capital no mesmo dia da final, às 10h30, no Canindé.
Neste caso, porém, eu não pude estar presente.

* Todas as imagens desta publicação foram tiradas por André Carlos Zorzi.

quinta-feira, 22 de março de 2018

A última passagem do Nacional pela 1ª Divisão - O Torneio da Morte de 1959/60


Equipe paulistana chega à última rodada da Série A-2 com chances de classificação; relembre sua última participação na elite

Foto da equipe no ano de 1958, ano anterior à queda. Da esquerda pra direita, o juiz, Pelé, Valentino (Goleiro Naça), Pagão camisa 9 (Santos) lá atras o Pepe e jogadores do Naça ao canto direto. Nacional 3 x 4 Santos - Estadio Nicolau Alayon. Imagem cedida por Deivid Silva / Nacional Atlético Clube
Por: André Carlos Zorzi

O Nacional Atlético Clube, um dos times de futebol mais tradicionais da cidade de São Paulo, chegou à última rodada da Série A-2 do Paulistão-2018 com chances reais de passar às semi finais.

A possibilidade desperta a esperança dos torcedores de rever a equipe disputando uma primeira divisão estadual – algo que não ocorre desde o ano de 1959.



Jogo entre Nacional e Água Santa, 22/03/2018. Foto: André Carlos Zorzi

E haja tempo! Para contextualizar, o presidente do Brasil à época era Juscelino Kubitschek. A capital federal o Rio de Janeiro. Os maiores campeões mundiais, Uruguai e Itália, com dois títulos cada, seguidos de Alemanha e Brasil, campeão vigente. Aos 19 anos de idade, Pelé ainda estava longe de se tornar o rei do futebol. O Nacional, por sua vez, era presidido por Antonio Carlos Nogueira Garcez.

Manchete da época - ir à lua ainda não era uma realidade

Relembraremos a seguir a última vitória da equipe na principal divisão estadual, alguns jogos importantes do Nacional naquela edição, e, por fim, mais detalhes sobre o Torneio da Morte, que, apesar de ser o desfecho do Campeonato Paulista de 1959, foi disputado em janeiro de 1960.


Tabela final da 1ª fase do Paulistão-59. Pontuação em 'pontos perdidos'



A Última Vitória

O Nacional em campo em sua última passagem pela 1ª divisão
Nacional 3 x 2 XV de Jaú
Na terça-feira, 22 de dezembro, o Nacional recebia o XV de Jaú em jogo válido pela penúltima das 38 rodadas do Paulistão de 1959. Foi a última vitória conquistada pela equipe em uma primeira divisão. O 3 x 2 impediria que o Comercial, lanterna do torneio, pudesse alcançar o Nacional na penúltima posição.

O Nacional saiu à frente com um gol de Nino, aos 23’ de jogo. Sete minutos depois, Graciano empatou para os visitantes, e Zé Carlos retomou a frente no placar para os nacionalinos aos 38’.

No começo do segundo tempo, o XV de Jaú teve o seu principal momento ofensivo na partida, que foi freado graças a uma falha do zagueiro central Japonês, que marcou gol contra aos 5’. O placar foi fechado aos 22’, com Graciano diminuindo o estrago para o XV.


Nacional: Jura; Nino e Mario; Geraldo, Ferrari e Roderley; Luiz Carlos, Zé Carlos, Baiano, Elson e Zuring.

XV de Jaú: Inocencio; Aracito e Japonês; Zezinho, Fernando e Moreto; Guanxuma, Graciano, Mozart, Ledesma e Itamar


Árbitro: Dino Pasini



Curiosidade
No mesmo dia da partida, a Seleção Brasileira jogou uma partida válida pelo Campeonato Sul-Americano Extra de Futebol (equivalente à Copa América atualmente), diante da Argentina.

O Brasil era a única equipe que ainda poderia barrar o título uruguaio, mas ele acabou se concretizando graças a goleada de 4 x 1 por parte dos argentinos, na cidade de Guaiaquil.

Na ocasião, o Brasil foi a campo com: Waldemar; Zequinha e Edson (Geroldo); Givaldo, Zé Maria e Clovis; Traçaia, Zé de Melo, Paulo, Geraldo e Elias (Goiano).

Outras vitórias
O XV também foi a primeira vítima do Nacional no campeonato, quando foi derrotado em Jaú por 3 x 1. O time da capital ainda venceu XV de Piracicaba (3 x 1), Noroeste (3 x 1), Ponte Preta (3 x 0) América (2 x 0, em casa), Botafogo (3 x 1), Comercial (6 x 2) e Taubaté (2 x 1).

Jogos importantes
Diante dos seis primeiros colocados, o retrospecto do Nacional não foi animador.

Nacional x Palmeiras

Contra o Palmeiras, por exemplo, um placar conhecido dos brasileiros: 7 x 1, em pleno Nicolau Alayon.

Quando faltavam cerca de 30 minutos para o fim da partida e o placar já indicava 6 x 0, o zagueiro palmeirense Dicão, contundido, sai de campo e deixa os italianos com um a menos.

Algum tempo depois, o palmeirense Americo adentrou a área sozinho e foi derrubado deslealmente por Waldir. Apesar do pênalti claro, o juiz não marcou. Americo saiu de campo na mesma hora, lesionado, deixando o alviverde com nove em campo. Mesmo assim, houve tempo para mais um gol palmeirense: 7 x 0.

Nacional: Cherri, Zinho e Waldir; Roderley, Gonçalves e Picho; Edgar, Amorim, Nondas, Elson e Walter.

Palmeiras: Waldir; Djalma Santos e Dicão; Geraldo, Zequinha e Waldemar; Paulinho, Americo, Nardo, Enio, Andrade e Chinesinho.

Contra os cinco grandes clubes à época e da Ferroviária, 3ª colocada após uma brilhante campanha, obteve os seguintes resultados:

1º Turno:
Nacional 1 x 7 Palmeiras
Nacional 0 x 3 São Paulo
Nacional 2 x 4 Portuguesa
Nacional 0 x 3 Corinthians
Nacional 0 x 2 Santos
Nacional 2 x 4 Ferroviária

2º Turno:
Nacional 0 x 2 Palmeiras
Nacional 0 x 4 Santos
Nacional 1 x 1 Ferroviária
Nacional 1 x 2 São Paulo
Nacional 1 x 4 Corinthians
Nacional 1 x 3 Portuguesa

Torneio do Descenso
A 'mini competição', decorrente do Paulistão de 1959 foi disputada em janeiro de 1960 e também ficou conhecida como Torneio da Morte. 

Reuniu a Portuguesa Santista (17ª colocada), XV de Jaú (18º) e o Nacional (19º), com os três se enfrentando em turno e returno. O Comercial da capital, lanterna, foi rebaixado direto à última divisão.

Na última rodada da 1ª fase, Ponte Preta e América também tinham chances de precisar disputá-lo.

À época, o esquema de acessos e rebaixamentos não era consolidado como hoje, o que levantou certa polêmica pelo fato de Briosa e XV protestarem quanto ao cumprimento da chamada Lei do Acesso. O Nacional foi o único a não se opor.

Como consta no jornal O Estado de S. Paulo, de 9 de janeiro de 1960:

“[...] [Os] quadros iniciam amanhã a disputa do ‘Torneio da Morte’. Só um escapará. Será curioso se for o Nacional, único disposto a enfrentar as consequências da Lei do Acesso”.

No dia seguinte, a explicação continuava:

“A Lei do Acesso prevê o rebaixamento, para a futura Primeira Divisão da FPF, de três clubes que se colocarem nos três últimos lugares, no Campeonato Paulista de 1959. O descenso para o último colocado é automátivo. Os três que antecederam devem agora disputar um torneio, para que se apure um vencedor, único a escapar do rebaixamento.”



“Tanto o XV de Novembro como a Portuguesa, por outro lado, atuarão no torneio sob protesto, por entenderem ilegal a aplicação da Lei do Acesso. O Comercial, já rebaixado, está também preparando recursos contra essa medida. Está mesmo disposto a apelar à Justiça Comum.
Apenas o Nacional não esboçou nenhuma atitude de protesto contra a decisão da FPF.”

A tabela ficou distribuída da seguinte forma:

10/01 – XV de Jaú x Portuguesa Santista
13/01 - Portuguesa Santista x Nacional
17/01 – Nacional x XV de Jaú
20/01 – Portuguesa Santista x XV de Jaú
24/01 – Nacional x Portuguesa Santista
27/01 – XV de Jaú x Nacional

As Campanhas
O XV de Jaú havia ocupado a parte final da tabela durante praticamente todo o torneio. Curiosamente, foi capaz de vencer o Santos, que disputou a grande final com o Palmeiras e marcou 151 gols em 38 jogos, por 1 x 0, em 8 de novembro de 1959, no returno. No 1º turno, houve vitória santista por 8 x 2.

A Portuguesa Santista, por sua vez, decaiu de rendimento após a saída do técnico Filpo Nunes para o Jabaquara. Na última rodada, dependia de um empate contra o América para se salvar. Acabou derrotado por 4 x 0.

O Nacional também pouco empolgou seus torcedores. Em um de seus poucos jogos de destaque, goleou o lanterna Comercial por 6 x 2 no Comendador Souza.

Confira abaixo os resultados das equipes envolvidas no Torneio do Descenso ao longo da 1ª fase:

XV de Jaú 1 x 3 Nacional
Portuguesa Santista 3 x 0 XV de Jaú
XV de Jaú 4 x 0 Portuguesa Santista
Nacional 3 x 2 XV de Jaú
Nacional 1 x 1 Portuguesa Santista
Portuguesa Santista 4 x 3 Nacional

O Nacional no Torneio da Morte

Disputa de bola entre Portuguesa Santista e Nacional
Portuguesa Santista x Nacional
O Nacional tinha uma dura tarefa logo de cara: superar a melhor situada entre as três equipes fora de seus domínios. Em caso de derrota, a Briosa, que já havia vencido a estreia, encerraria o primeiro turno com vantagem.

No dia da partida, o jornal O Estado de S. Paulo destacava:

“No jogo de hoje, dificilmente os santistas deixarão escapar a vitória, ajudados ainda pelos fatores campo e torcida. O Nacional fará sua primeira apresentação. Sem modificações de vulto no quadro que disputou todo o Campeonato, dificilmente superará o nível medíocre de suas apresentações durante o certame”.

“Os jogadores do Nacional, que ontem à tarde treinaram sob a orientação de Brandãozinho, permanecem concentrados, em preparação para o jogo de hoje. Seguirão à tarde para Santos, em ônibus especial.”

O resultado não foi dos melhores, como consta no pós-jogo:

“[...] [A Portuguesa] acumulou três ‘goals’ em cima do Nacional e este, mesmo oprimido pelo peso dessas bolas, ainda foi marcar dois pontos que abalaram o adversário com um susto danado”.

Placar final: 3 x 2.


Nacional x XV de Jaú
No primeiro tempo, os donos da casa atacaram de forma insistente e desordenada, com o ataque perdendo três boas chances de abrir o placar.
Os visitantes saíram à frente no placar. Alguns veículos creditam o tento a Guanxuma, e outros a Graciano, em conclusão surgida após falha do zagueiro Nino. 0 x 1.

Na volta do intervalo, Zé Carlos precisou de apenas dois minutos de bola rolando para receber lançamento de Baiano e empatar o jogo. 1 x 1.
Aos 27’ da etapa complementar, uma importante vantagem para o Nacional: o XV de Jaú ficou com um jogador a menos após expulsão do meio-campo Ledesma, que acertou pontapé em Baiano, após ele ter lhe dado as costas.

O fato, porém, de pouco adiantou: aos 41’, Graciano sacramentou a vitória para o time de Jaú, mesmo com a tentativa de defesa do goleiro Valentino, que chegou a tocar na bola.

A Folha de S. Paulo definia:

“A equipe nacionalista disputou uma péssima partida durante a qual evidenciaram-se, de forma gritante, as suas falhas de conjunto. Teve pela frente um XV de Jaú bastante disposto, que não pôde apresentar futebol de nível técnico superior ao do adversário, mas que soube explorar muito bem as oportunidades surgidas.”

Com a nova derrota, o jornal O Estado de S. Paulo descreveu:

“O mais provável nesse torneio, portanto, é que caiba mesmo ao Nacional e ao XV de Novembro o trabalho de congestionar os tribunais de justiça desportiva com calhamaços de recursos. O trabalho talvez não seja inútil, porque já uma vez salvou um quadro em circunstâncias semelhantes: o Jabaquara.”

Tratava-se de uma referência ao Paulistão de 1955, em que a equipe do litoral havia sido lanterna e, em tese, rebaixada. Porém, após utilizar o argumento de que seria uma das fundadoras da Federação, e, portanto, não poderia cair, acabou por permanecer após recurso.

Com a derrota, o Nacional dependia de vitória do XV sobre a Portuguesa no jogo seguinte, além da necessidade de vencer suas duas partidas restantes.

Nacional 1 x 2 XV de Jaú
Nacional: Valentino; Nino e Mario; Rivetti, Pixo e Roderley; Luis Carlos, Zé Carlos, Baiano, Elson e Nondas.
XV de Jaú: Inocencio; Aracito e Japonês; Gilberto, Moreto e Fernandinho; Guanxuma, Graciano, Ledesma, Itamar e Mozart.
Juiz: Luis Palumbo.
Renda: 35.575,00 cruzeiros

Nacional x Portuguesa Santista
Por uma questão de tabela, o Nacional entrou em campo já rebaixado. Como a Briosa havia superado o XV de Jaú por 3 x 0 no jogo anterior, já possuía seis pontos na tabela. Com dois jogos em disputa, o time da capital poderia chegar somente a quatro.


Prova do desinteresse na partida foi o baixo público presente, que deu uma renda de apenas 3.635,00 cruzeiros, cerca de um décimo da partida anterior.

Aos 30’ de jogo, falta para os donos da casa. Gonçalves cobrou e pôs o Nacional à frente. 1 x 0.

A vitória parcial durou até os 27’ da etapa complementar, quando Atílio subiu livre pelo meio-campo e conseguiu chutar. O zagueiro Mario tentou interceptar a bola, mas acabou por tirar o goleiro da jogada e marcar contra.

Nacional 1 x 1 Portuguesa Santista
Nacional: Valentino; Getúlio, Mario, Roderley, Gonçalves, Pixo, Luis Carlos, José Carlos, Vitor, Rubens, Zurinque.
Portuguesa Santista: Aparecido, Pixu, Brandão, Nenê, Jorge, Henrique, Bota, Atílio, Silvio, Norberto, Rafael.
Juiz: Fatore Rosa.

XV de Jaú x Nacional
O último jogo do Nacional em um resquício de primeira divisão teve um tom de melancolia, reunindo duas equipes que já estavam previamente rebaixadas, sem valer nada em termos de tabela e, ainda por cima, encerrando de vez o campeonato do ano anterior.

“O Nacional Atlético Clube dissolverá o seu quadro de profissionais. Os defensores do quadro do Nacional terão seus passes colocados à venda. Com essa atitude, o Nacional confirma as declarações de seu presidente, que concordará com o cumprimento da Lei do Acesso.”, definia o Estado de S. Paulo de 27 de janeiro de 1960.

Apesar de tudo, foi um jogo movimentado.

Zuring abriu o placar para o Nacional, aos 18’. Zé Carlos ampliou quatro minutos depois, e Valtinho diminuiu aos 38’.

No segundo tempo, Zé Carlos fez 3 x 1 para os visitantes, aos 14’. A vitória, porém, não durou muito. Aracito reduziu aos33’ e Itamar empatou aos 41’.

Estava cumprida a tabela e findada a última participação do Nacional Atlético Clube na primeira divisão estadual, então conhecida como Divisão Especial, até os dias de hoje.

XV de Jaú 3 x 3 Nacional.
XV de Jaú: Larmin; Aracito e Almir; Moreto, Gilberto e Dino; Valtinho, Graciano, Adãozinho, Itamar e Zezinho.
Nacional: Valentino; Getulio e Mario; Roderley, Gonçalves e Pixo; Rubens, Zé Carlos, Vitor, Elson e Zuring.
Juiz: Telemaco Pompeu

Torneio da Morte – Campeonato Paulista 1959

10/01/1960 – XV de Jaú 0 x 1 Portuguesa Santista
13/01/1960 – Portuguesa Santista 3 x 2 Nacional
17/01/1960 – Nacional 1 x 2 XV de Jaú
20/01/1960 – Portuguesa Santista 3 x 0 XV de Novembro
23/01/1960 – Nacional 1 x 1 Portuguesa Santista
27/01/1960 – XV de Jaú 3 x 3 Nacional

Classificação final:
07 pontos – Portuguesa Santista
03 pontos – XV de Jaú
02 pontos – Nacional

Ao término do torneio, os jogadores da Briosa receberam cerca de 15 mil cruzeiros como gratificação pela permanência.

Informações e imagens: Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo

Prédios das redondezas certamente ainda não estavam lá em 1959. Foto: André Carlos Zorzi


Região do estádio do Nacional no ano de 1958. Foto: Geoportal Memória Paulista

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Há 22 anos, governo enfrentava congresso por previdência - no futebol


Jogo entre políticos foi marcado por muitos gols e piadas de duplo sentido

Paulo Renato disputa bola com deputado Francisco Rodrigues. MMilton Seligman no gol do executivo ao fundo. Foto: Marcio Arruda / Folhapress

Por: André Carlos Zorzi

O ano era 1995. O tetra da seleção, a criação do plano real e a primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso como presidente ainda eram fatos 'do ano passado'.

No dia 9 de abril, um domingo, na Granja do Torto, em Brasília, FHC organizava um inusitado jogo de futebol entre os poderes Executivo e Legislativo. À época, uma das principais questões em pauta no mundo político era, assim como hoje, uma reforma na previdência, e o encontro visava melhorar as relações entre eles.

De um lado, ministros e chefes de gabinete e comunicação. Do outro, deputados, e até mesmo um senador. O nome mais aguardado não pôde estar presente por conta de uma viagem à Argentina: Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, então ministro dos esportes.


Pelé participa da novela História de Amor como Ministro dos Esportes

Jornais da época apontavam possibilidade de uma goleada por parte do time do Congresso, já acostumado a jogar junto em alguns finais de semana na casa de Wigberto Tartuce (PP-DF), enquanto os rivais se conheceriam em campo na manhã daquele domingo, na Granja do Torto.

Futebol e Política
Como era de se esperar, a ocasião rendeu inúmeras piadinhas e frase de duplo sentido. Em tom de brincadeira, FHC pedia ao time de seu governo que 'facilitasse' a vida do adversário, já pensando em relações futuras.

"Se eles mostrarem em campo a falta de entrosamento que têm na política, vai ser moleza", provocava o deputado Tilden Santiago (PT-MG).

O 'treinador' escolhido para o Executivo foi Xico Graziano, Chefe de Gabinete da presidência, mas quem se 'intrometeu' na função ao longo do jogo foi Sérgio Motta, ministro das comunicações.



Foto: Folha de S. Paulo

Do lado legislativo, os deputados Vadão Gomes (PP-SP), Wigberto Tartuce (PP-DF) e Paulo Paim (PT-RS) revezaram-se entre a função e o campo - os três jogaram.

Graziano não poupava seus comandados. Quando Paulo Renato Souza, ministro da educação, ainda não havia definido sua posição, o 'técnico' cornetava: "Ele é um polivalente ao contrário: não joga bem em lugar nenhum!"

Xico também incorporava um 'treinador' de verdade: "Vamos ter que cozinhar. Cozinhar com muita paciência, muita calma. Se ganharmos de um a zero, está bom."

O jogo
A partida foi disputada em um campo de futebol society, com oito em campo para cada lado - sem limites para substituições. Estava marcada para as 10 horas da manhã, mas, é claro, precisou ser atrasada.

O motivo eram os ministros da educação e comunicação, respectivamente, Paulo Renato e Sérgio Motta, que alegou estar com o pé direito machucado e preferiu não entrar em campo. Os dois estavam em São Paulo e não puderam chegar a tempo.

Mesmo com as ausências, Fernando Henrique Cardoso deu procedimento ao evento, 40 minutos depois. Os 'atletas' posaram para fotos e o presidente distribuiu flâmulas com as inscrições "Reforma já".


FHC dá início à partida. Foto: Folhapress

Em seguida, deu o pontapé inicial e partiu para assistir ao jogo na 'arquibancada'. Mesmo sem estar escalado, não poderia jogar, já que, de acordo com ele, teria comido uma buchada de bode dois dias antes, em visita à cidade de Nova Jerusalém, Pernambuco, e passado mal na madrugada anterior.

Quando pediam um palpite, ficava em cima do muro: 3 x 2, sem especificar qual time levaria a vitória. "Será do povo", se esquivava.
Paulo Renato chegou quando já haviam se passado 10 minutos de jogo, vestindo uma camisa do Grêmio, sendo provocado por FHC: "Que papelão, cria vergonha, Paulo!"

"Está mais parecendo um piquenique inglês. Os dois lados estão como baratas tontas", palpitava FHC, dando a tônica do jogo, que começou nervoso e faltoso.

Quando Ricardo Gomide (PC do B-PR) começou a entrar com facilidade na área adversária, pelo lado direito, o presidente irritou-se com o lateral-esquerdo de seu time, que secretário do Tesouro Nacional: "Guarnece a defesa, Murilo [Portugal]! Nem parece que você está no Tesouro, deixa tudo solto!"

Sérgio Motta se arrisca nas embaixadinhas. Foto: Folhapress

Trapalhadas
Como a disputa era descontraída, a desorganização foi um show à parte. Por quase cinco minutos, o time do governo contou com um jogador a mais em campo, já que Paulo Renato entrou no lugar de Murilo Portugal em certa altura - sem, porém, esperá-lo sair do gramado.

"Vocês querem ganhar com maioria forçada", reclamou Tilden Santiago. Paulo Paim, que estava do lado de fora na ocasião, invadiu o gramado e pediu a interrupção até que o adversário voltasse a ter o mesmo número de jogadores.

Além disso, o time do Legislativo previa 17 representantes, mas nada menos que 25 apareceram para o jogo. "Não sei quem está jogando, não conheço ninguém", comentava o 'técnico' Paim à certa altura. Alguns políticos estavam em seu primeiro mandato, há poucos meses no cargo, o que fez com que chamasse seus comandados por apelidos criados na hora, como "Bigode" e "Frangão".


Paulo Renato, Milton Seligman e Marquinhos Chedid, que viria a ser presidente do Bragantino Foto: Marcio Arruda / Folhapress

Gols
Aos 22 minutos de jogo, Paulo Renato colocou a mão na bola dentro da área. Pênalti assinalado pelo juiz Norberto Balsanelli, que era segundo tenente do exército.

Wigberto Tartuce foi para a cobrança e abriu o placar. "Vou mandar uma caixa de uísque para o ministro Paulo Renato", brincou após o lance.

Com apenas alguns segundos na etapa complementar, veio o empate: Graziano, que havia entrado em campo, chutou forte, sem chance para o goleiro Ricardo Gomide (PC do B-PR).

A alegria, porém, não durou muito. Aos 4, aos 12 e aos 13, Francisco Rodrigues (PSD-RR) marcou três gols e transformou o placar em goleada. "Tenho que nomeá-lo ministro!", brincou FHC, que também aproveitou para achar um culpado: o goleiro Milton Seligman, secretário-executivo do Ministério da Justiça.


Sérgio Motta ao lado de Wigberto Tartuce. Foto: Marcio Arruda / Folhapress

"Um desastre!", bradou, acompanhado por Sérgio Motta: "Esse goleiro é muito ruim. O legislativo fez um acordo com o Ministério da Justiça."

Paulo Chelotti, agente da Polícia Federal, diminuiu para o Executivo aos 17, e, com mais um gol de Graziano, encostaram no placar aos 23 minutos: 4 x 3.

Aos 28', porém, Rondon Santiago (PPR-AC) deu números finais ao jogo: 5 x 3.

Fim de jogo
Pouco depois do apito final, Sérgio Motta agarrou a bola usada na partida e uma camisa do time adversário. "Vou entregar ao presidente", explicava.


FHC e a bola do jogo. Foto: Marcio Arruda / Folhapress
Um churrasco foi servido enquanto formavam-se grupos para discutir articulações políticas, e, se antes o clima era de disputas acirradas pela bola, agora as conversas tinham um caráter mais negociador. Alguns cogitavam até uma partida de 'volta', no campo do Clube do Congresso, para dali a alguns meses.

Houve tempo, ainda, para que Graziano e José Luiz Portella, presidente da FAE, superassem Vadão Gomes (PP-SP) e Odelmo Leão (PP-MG) em uma partida de truco, uma 'mini-vingança' pela derrota de mais cedo.

No mesmo ano, em 13 de maio, o time do Governo voltou a campo, desta vez para enfrentar uma equipe da Imprensa. Na ocasião, conseguiram vencer por 3 x 2.


Flâmulas "Reforma Já" sendo entregues. Foto: Marcio Arruda / Folhapress

Legislativo 5 x 3 Executivo


Local: Granja do Torto, residência de campo da Presidência da República
Juiz: Norberto Balsanelli (Segundo Tenente do Exército)

Cartão Amarelo: Tilden Santiago (PT-MG)

Confira abaixo os 'jogadores' de cada equipe - Muitos são presença constante no noticiário político até os dias de hoje: 

LEGISLATIVO:
Dilceu Sperafico (PP-PR)
Pedro Canedo (PP-GO)
Fernando Gonçalves (PTB-RJ)
Leonel Pavan (PDT-SC)
Chicão Brigigo (PMDB-AC)
Ricardo Gomide (PC do B-PR)
Herer Parcianello (PMDB-PR)
Wigberto Tartuce (PP-DF)

Substitutos:
Tilden Santiago (PT-MG)
Francisco Rodrigues (PSD-RR)
Ronivon Santiago (PPR-AC)
Marquinho Chedid (PSD-SP)
Rommel Feijó (PSDB-CE)
Paulo Paim (PT-RS)
José Roberto Arruda (PP-DF) (Senador)
Arnon Bezerra (PSDB-CE)
Nelson Meurer (PP-PR)
Vadão Gomes (PP-SP)
Eraldo Trindade (PPR-PB)
Valdomiro Meger (PP-PR)
Francisco Escórcio (PP-MA)
José Janene (PP-PR)
Silvernani Santos (PP-RO)

EXECUTIVO:
Milton Seligman (Secretário-executivo do Ministério da Justiça)
Paulo Félix (Chefe de comunicação do Ministério da Justiça)
Paulo Renato (Ministro da Educação)
José Luiz Portela (Presidente da FAE)
Francisco Graziano (Chefe de Gabinete de FHC)
Paulo Chelotti (Agente da Polícia Federal)
Marlo Litwinski (Chefe de comunicação do Banco do Brasil)
Murilo Portugal (Secretário do Tesouro Nacional)

Substitutos:
Major Villaça (Ajudante de ordens de comitivas de FHC)
Raimundo Dantas (Secretário Particular do Ministro da Justiça)

'Escalados', mas não jogaram: 
Denot Medeiros (Embaixador responsável pelo Mercosul)
Sérgio Motta (Ministro das Comunicações)

Observações:
PPR = Partido Progressista Reformador
PSD = Extinto em 2003. Partido de mesmo nome que o fundado em 2011.
PP = Antes de chegar aos atuais moldes. O número de votação, por exemplo, era o 39.
FAE = Fundação de Assistência ao Estudante

Informações: Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo
Fotos: Folha de S. Paulo