quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Suposta irregularidade de Cristiano Lopes pode mudar rumo da Série B

** Atualização: Entrei em contato com o Presidente do Oeste, Sr. Ernesto Garcia. Segue abaixo sua resposta, inalterada:

“Agradeço o alerta, mas verifique que, no Art.49 do Regulamento Geral das Competições, edição 2014 diz:

"Um clube não poderá incluir em sua equipe, na mesma temporada, um atleta que já tenha atuado por dois clubes, em quaisquer das competições coordenadas pela CBF, com exeção das copas regionais, em consonância com as determinações da FIFA sobre a matéria."Veja que o regulamento é claro quando diz "competições coordenadas pela CBF", o que não é o caso.
E quando se lê "temporada", ela só começa quando acontece o primeiro jogo da primeira competição da CBF, que no caso é a COPA DO BRASIL, que se iniciou em 19/02/2014.

Agradeço imensamente, pois, se fosse o caso, depois desse ALERTA, ja não escalariamos o atleta em questão para o proximo jogo.

Abraços,
Ernesto Garcia


O jogador Cristiano Lopes, de inscrição 172817, atualmente no Oeste de Itápolis, clube da segunda divisão do brasileiro, aparenta ter atuado por quatro equipes distintas ao longo do ano, o que caracterizaria uma irregularidade de acordo com o Regulamento da FIFA sobre o Status e a Transferência de Jogadores, como pode ser verificado a seguir:
 
Registro de Cristiano no site do BID

Regra



“1. A player must be registered at an association to play for a club as either a 
professional or an amateur in accordance with the provisions of article 2. Only 
registered players are eligible to participate in organised football. By the act of 
registering, a player agrees to abide by the statutes and regulations of FIFA, the confederations and the associations.

2. A player may only be registered with one club at a time.

3. Players may be registered with a maximum of three clubs during one 
season. During this period, the player is only eligible to play offi cial matches 
for two clubs. As an exception to this rule, a player moving between two clubs 
belonging to associations with overlapping seasons (i.e. start of the season in 
summer/autumn as opposed to winter/spring) may be eligible to play in offi cial 
matches for a third club during the relevant season, provided he has fully 
complied with his contractual obligations towards his previous clubs. Equally, 
the provisions relating to the registration periods (article 6) as well as to the 
minimum length of a contract (article 18 paragraph 2) must be respected.

4. Under all circumstances, due consideration must be given to the sporting 
integrity of the competition. In particular, a player may not play offi cial matches 
for more than two clubs competing in the same national championship or cup 
during the same season, subject to stricter individual competition regulations of 
member associations.”

De acordo com o item 3. É possível notar que jogadores só podem ser registrados em um máximo de três clubes durante uma temporada, além de estar elegível para atuar em partidas oficiais por apenas dois deles. No mesmo trecho o próprio texto cita sobre a diferença entre temporadas que se iniciam em períodos diferentes do ano, o que não vem ao caso em questão por se tratar de um atleta que não saiu do futebol brasileiro, portanto, todos os clubes referidos partilham do mesmo calendário de temporada anual.

A seguir, as equipes pelas quais Cristiano já atuou no ano. É importante reparar no número de inscrição que consta nas súmulas.

Misto – MS

Comercial 2 x 1 Misto - 18/01/2014

Jogo válido pela rodada inaugural do Campeonato Sul-Matogrossense de Futebol da temporada 2014. Podemos reparar na súmula que Cristiano Lopes não apenas entrou em campo com a camisa 9 como foi também o capitão da equipe do Misto.


Súmula da partida entre Comercial e Misto retirado do site da Federação Sul-Mato-grossense


Maringá – PR

Maringá 1 x 0 Prudentópolis – 22/03/2014

Pela equipe do interior paranaense Cristiano não apenas entrou em campo como sagrou-se artilheiro do Campeonato Paranaense de Futebol da temporada 2014.

Abaixo registro de uma das partidas pelas quais o atacante atuou como titular, trajando a camisa 9, válida pelas Quartas-de-Final do torneio em questão.


Súmula da partida entre Maringá e Prudentópolis retirada do site da FPF

  
Criciúma – SC

Goiás 1 x 0 Criciúma – 27/04/2014

O atleta entrou em campo pelo Tigre catarinense aos 9 minutos da etapa complementar, com a camisa número 18, ante a equipe do Goiás, em partida válida pela 2ª rodada do Campeonato Brasileiro da série A da temporada 2014.



 
Súmula eletrônica da partida entre Goiás e Criciúma retirada do site da CBF
Oeste – SP

Oeste 3 x 1 Ceará – 06/09/2014

Contratado como reforço para tentar afastar o clube paulista do rebaixamento, Cristiano Lopes entrou em campo aos 18 minutos do segundo tempo em partida contra a equipe do Ceará, válida pela 20ª rodada do Campeonato Brasileiro da série B da temporada 2014.


Súmula da partida entre Oeste e Ceará retirada do site da CBF


Conclusão

Ao que tudo indica, o atleta de fato entrou em campo por quatro clubes distintos em uma mesma temporada, o que aparenta não estar de acordo com a regra citada no início da postagem. A situação de Cristiano lembra a do camaronês Meyong, que após passagens por Levante e Albacete transferiu-se ao Belenenses de Portugal, seu terceiro time na mesma temporada europeia (2007-08), o que acabou levando à perda de pontos por parte da equipe portuguesa.

Como desconhecedor dos meandros da Lei (não encontrei como exatamente funciona a regra em questão em caso de empréstimos, por exemplo), não me cabe acusar diretamente a irregularidade do jogador, que obviamente não teria má fé alguma caso o fato se confirme. Tanto por parte da equipe paulista, quando do Criciúma, que também se enquadraria no descumprimento (curiosamente, trata-se do mesmo jogador e da mesma partida pelos quais o clube foi julgado, e posteriormente absolvido, mas por outra motivação), acho válido postar esse alerta para que talvez chegue a dirigentes que possam esclarecê-lo, e na pior das hipóteses, evitar que mais dano seja causado.


Se alguém possuir alguma crítica ou correção a ser feita, favor encaminhá-la para o e-mail andre.carlos.zorzi@gmail.com



* Todos os links e documentos citados foram visualizados entre as 11:30 e 12:30 do dia 10/09/2014



quinta-feira, 10 de julho de 2014

Desculpe Seu Scolari

O texto a seguir foi escrito por André Carlos Zorzi, e é inteiramente baseado na letra da música Camisa 10, lançada em 1973 na voz do cantor Luiz Américo, e composta por Hélio Matheus e Luís Vagner.

Na canção (clique aqui para acessar a letra completa), Américo "corneta" o então técnico da Seleção Brasileira, Mário Jorge Zagallo, tal como alguns dos convocados para a primeira Copa do Mundo pós-Pelé. 

Tomei a liberdade de adaptá-la ao trágico e recente episódio do Futebol Nacional que dispensa comentários, com referências a todos os envolvidos na partida. 


Versão original da canção

Camisa 7

Desculpe Seu Scolari
Com poeta na zaga fica só buraco
Só fica se ensinando a não deixar barato
Fizeram do ajudante de palhaço o capitão
(Quem nos deixou na mão)

Desculpe Seu Scolari
Mas deram um zunido na sua estrela
E o imperador se escondeu na porteira
Só quem fez bom papel foi quem não teve indicação
(Na tal premiação)

Cuidado Seu Scolari
O Garoto do e-mail está muito nervoso
E com fé, mando em campo fica perigoso
Diferente do Chaves, gringo vai marcar
(E como vai)

Refrão:
_

Vai levar de 7 a seleção
Laia, Laia, Laia
Vai levar de 7 a seleção
Laia, Laia, Laia
10 era a camisa dele!
Ninguém entrou no lugar dele!
10 era a camisa dele!
Ninguém entrou no lugar dele!
_

Então mexe Seu Scolari
Pra nossa alegria muda a frente inteira
E já tira o bezerro lá da geladeira
Também já vai abrindo o tal do Guaraná
(Mas não vai dar)

[Refrão]

Desculpe Seu Scolari
O problema foi Marinho, ter dado pitaco
Mas agora já era, afundou o barco
Erraram muito feio na sua contratação
(Com uva e bigodão)

Desculpe Seu Scolari
É ruim que o convidado estrague a festa inteira
E se não fosse um tempo só de brincadeira
Não ia ter espaço para tanta humilhação
(Cá dentro da nação)

Cuidado Seu Scolari
O tal do ator sueco anda ardiloso
Sem perna, a alegria foi parar no fosso
Ter super herói pra nos salvar não vai
(E nem cai-cai)

[Refrão]

Desculpe Seu Scolari
A lágrima que seco é da torcida inteira
Que ficou à deriva sem eira nem beira
E nunca mais de 7 vai querer tomar
(Pra não chorar)

[Refrão]

E agora, Luiz?

Confira abaixo todas as referências. (Clique sobre os nomes para ver mais)
















sexta-feira, 30 de maio de 2014

Naturalização Artificial


No mundo do futebol sempre foram constantes as disputas entre seleções nacionais, equipes formadas por atletas nascidos em determinado país, nação, ou território, com o intuito de jogarem entre si representando suas respectivas bandeiras. Porém, tão constantes quanto esses embates, são naturalizações de jogadores nascidos em determinado local que atuam por uma seleção que não é a sua original.

Existem os mais diversos motivos para que isso aconteça, em alguns casos, por exemplo, há uma relação de descendência do jogador com determinado país no qual seus pais nasceram, em outros, o profissional se muda para um país, seja muito jovem ou já em plena atividade profissional e vive por anos a fio residindo em determinado local, ou até atletas que não possuem nenhum vínculo com determinada região, mas recebem propostas financeiras por parte das federações que lhes soam interessantes e partem em busca da oportunidade de vestir uma camisa nacional.

As normas que regulamentam essa questão também variam ao longo do tempo. Para ficar apenas em épocas mais recentes, em 2004 a Fifa restringiu as naturalizações apenas a quem tivesse “relações claras” com o país ao qual defenderiam, ou seja, ser filho ou neto de um cidadão do país ou ter morado nele por ao menos dois anos consecutivos. Até então, bastava que o atleta jamais tivesse enfrentado a seleção pela qual iria se naturalizar, e possuísse a cidadania de determinado país. Em 2008, houve nova mudança na regra, e ao invés de dois anos mínimos tornaram-se necessários cinco. Ao final de 2013, a regra foi novamente alterada, já que até então os atletas poderiam atuar pelas categorias de base de uma seleção antes de optar por outra, porém, bastava atuar uma partida profissional que essa escolha estaria tomada pelo resto da vida. Com a regra então adotada, um jogador precisaria atuar em um jogo oficial (por exemplo Eliminatórias ou Copa do Mundo) para voltar atrás, de forma que amistosos estariam liberados.

Foi o que aconteceu com o atacante do Atlético de Madrid Diego Costa, nascido em Lagarto no Sergipe, joga no futebol espanhol desde 2007, chegou a ser convocado pelo técnico Luiz Felipe Scolari e entrou em campo com a camisa da seleção brasileira em março de 2013, nos amistosos contra Itália e Rússia. Três meses depois, obteve cidadania espanhola e foi convocado a defender a Espanha, e em março de 2014, menos de um ano após enfrentar a seleção italiana pelo Brasil, jogou novamente contra ela, desta vez com a camisa espanhola.

Recentemente, a questão das naturalizações vem crescendo a ponto de muitos considerarem-na como um problema. Numa declaração dada em 2011, o delegado da Federação dos Emirados Árabes Unidos defendia que regras que facilitam a naturalização de jogadores beneficiariam países pequenos que possuem grandes comunidades de expatriados em seu território, o que na visão de algumas pessoas é apenas uma justificativa para o país, que possui uma grande riqueza concentrada nas mãos de dirigentes, possa literalmente contratar jogadores de outras nacionalidades e assim conquistar em campo resultados que demorariam décadas de trabalho árduo e sério para tentarem ser atingidos.

Montagem com as camisas com as quais Diego Costa já atuou
Nas Copas do Mundo disputadas no novo milênio, todas com a presença de 736 atletas distribuídos em 32 seleções, houve um notório aumento na quantidade de naturalizados. Em 2002, haviam 43, em 2006 64 e em 2010 foram 76. Para a Copa do Mundo de 2014 haviam 106 naturalizados apenas na pré-lista (que inclui 30 selecionados para cada equipe, com sete a serem cortados até o início da competição), e é provável que o número continue aumentando.

O Passado: Naturalizações ocorrem desde sempre

Engana-se quem acredita que jogadores que vistam a camisa de um país no qual não nasceram surgiram apenas na atual era do futebol moderno e globalizado, e que em tempos passados só entrava em campo quem possuía uma identificação profunda e amorosa com a nação que estava defendendo, na linha de argumentação do “na minha época era melhor”. É claro que provavelmente, a quantidade com a qual esse fenômeno ocorre atualmente, além das motivações para que isso ocorra sejam diferentes, mas não deixa de ser algo que sempre foi comum no mundo futebolístico.



Ferénc Puskas
Alfredo Di Stéfano
Lázlo Kubala


Exemplos de grandes jogadores famosos não faltam, como Lázló Kubala, 3º maior artilheiro de toda a história do Barcelona, clube no qual atuou por 11 temporadas. Nascido na Hungria, estreou no futebol internacional jogando pela seleção da Tchecoslováquia, já que tentara escapar do serviço militar húngaro indo ao país vizinho. Posteriormente, foi chamado pelo serviço militar pelo novo país, e retornou e atuou pela Hungria, e por fim, pela Espanha, quando chegou a fazer parte até mesmo da lista de jogadores para a Copa do Mundo de 1962, quando não pôde jogar por conta de uma lesão. Além dele, Férenc Puskas, considerado por muitos um dos maiores jogadores da história do esporte, chegou a atuar em duas Copas do Mundo por países diferentes, pela mágica Hungria de 54, tendo inclusive marcado o primeiro gol da final do torneio, e pela Espanha oito anos depois, em uma campanha mais apagada. Ambos, porém, foram motivados a fugir da Hungria por conta da repressão causada pela revolução húngara.




...Mazzola no Brasil
Altafini na Itália...
Ídolo de equipes como River Plate, Millonarios e principalmente do poderoso Real Madrid, Alfredo Di Stefano disputou a Copa América de 1947 pela seleção argentina e as eliminatórias para as Copas do Mundo de 1958 e 1962 pela seleção espanhola. José João Altafini, o Mazzola, sagrou-se campeão mundial com a seleção brasileira em 1958, e quatro anos depois estava novamente no torneio mundial, mas desta vez atuando com a camisa da Itália. Como justificativa, alega que à época a confederação não chamava atletas de fora do país para a seleção, e como após a primeira Copa transferiu-se para a Europa jogar no Milan, não seria convocado pelo Brasil, e decidiu jogar pela Itália, tendo inclusive dito: “não fui eu que deixei o Brasil. Foi o Brasil quem me deixou”.

Durante a primeira Copa do Mundo, em 1930, a seleção dos Estados Unidos sequer poderia escalar o time titular somente com jogadores nascidos em solo americano, já que entre os 16 participantes da equipe, haviam 5 escoceses e um inglês. Até mesmo a finalista Argentina e o campeão Uruguai contavam com espanhóis em seu elenco, Suaréz pelos argentinos e Cea e Fernandéz pelos uruguaios.









O Caso da Guiné Equatorial

Pequeno país de colonização espanhola no Centro-Oeste da África, a Guiné Equatorial chama atenção do mundo principalmente por duas coisas nos últimos tempos: A riqueza de Obiang Mbasogo, presidente do país e citado como um dos chefes de Estado mais ricos do planeta, e a frequência e quantidade com a qual sua seleção nacional de futebol aproveita-se de naturalizações.

Em pé: Danilo(Brasil), Lawrence Doe (Libéria), Fousseny Kamissoko (Costa do Marfim), Iván Bolado(Espanha), Rui(Espanha), Randy (Espanha)
Agachado:  Bem Konaté (Costa do Marfim), Javier Balboa (Espanha), Juvenal (Espanha), Kily(Espanha), Thierry Fidjeu (Camarões)
Entre todas as equipes nacionais existentes no mundo hoje, provavelmente é a que mais se assemelha a um clube de futebol. Uma minoria de atletas convocados para os jogos costumam ser nascidos no território do país, sendo a maioria dos importados espanhóis, brasileiros e colombianos, além de camaroneses, nigerianos, entre outros países. O mesmo acontece na seleção feminina, com muitas espanholas, camaronesas e brasileiras compondo as convocações. Isso custou caro à seleção nas últimas Eliminatórias para a Copa do Mundo, quando irregularidades na escalação de Nsue, atleta com descendência no país, porém nascido na Espanha foram relatadas e a equipe perdeu os três pontos conquistados numa vitória sobre Cabo Verde.

Recentemente, o volante Claudiney Rincón faleceu em decorrência de uma malária contraída após defender o país nas Eliminatórias para a Copa do Mundo. Outros jogadores passaram pelo mesmo, tendo o goleiro Danilo Clementino chegado a ficar em coma por 10 dias e internado por quase um mês.


E no Brasil?

Já na seleção brasileira, temos um caso interessante. Somente quatro jogadores nascidos fora do território nacional disputaram jogos com a seleção canarinho. São eles:

Sidney Pullen
- Sidney Pullen:
Nascido na cidade de Southampton na Inglaterra em 1895, veio ao Brasil muito jovem, por conta do trabalho de seu pai, em uma fábrica. Aos 17 anos de idade já havia sido campeão carioca atuando pelo Paissandu, clube que acolhia muitos ingleses no Rio de Janeiro, e em 1915 foi para o Flamengo, junto com seu pai Hugh Pullen que tornou-se tesoureiro do clube, tendo inclusive adotado o uniforme rubro-negro e aposentado o “cobra-coral” (Semelhante ao atual uniforme do Santa Cruz pernambucano) que remetia à bandeira alemã à época da Guerra.

No ano de 1916, disputou o 1º Campeonato Sul-Americano, precursor do que hoje é a Copa América, torneio disputado nas duas primeiras semanas de julho que fazia parte das comemorações do centenário de independência argentina, sede da competição. Ao lado de Chile, Uruguai e dos anfitriões, disputou as três partidas atuando na região do meio-campo, e curiosamente, foi o árbitro da partida entre Argentina e Chile pelo mesmo torneio.

Ainda no mesmo ano, foi chamado para o exército inglês durante a 1ª Guerra Mundial, voltando tanto ao país quanto ao Flamengo já no ano seguinte. Não se tem a data certa de sua morte, apenas que foi na década de 1950.




Casemiro Amaral
- Casemiro Amaral:
Nascido em Lisboa, Portugal ao ano de 1892, veio para o Brasil e iniciou a carreira no mundo da bola aos 19 anos, pelo América carioca. De lá transferiu-se para o Germânia em São Paulo capital, em rápida passagem por um ano até chegar ao Corinthians, onde ficou até 1914. Entre 1915 e 1917, atuou no Mackenzie, e prestou serviços à seleção brasileira no Campeonato Sul-Americano de 1916 e 1917, na posição de goleiro, quando atuou em cinco partidas e foi vazado por 11 vezes. Acabou falecendo em 1939.







Francisco Police
- Francisco Police:
Nascido em Caserta, na Itália no ano de 1893, participou da primeira partida do Sport Club Corinthians Paulista, a derrota para o União Lapa em 1910. Também atuou no primeiro jogo internacional da história do clube, o 0 x 3 contra o Torino em 1914. Pelo time, foi bicampeão paulista em 1914 e 1916, e chegou a atuar também pela equipe uruguaia do Montevideo Wanderers. Foi chamado para a partida entre a seleção brasileira e o Dublin do Uruguai, em General Severiano em 1918. Faleceu no ano de 1952.








Marcelo Moreno
- Marcelo Moreno:
Filho de pai brasileiro e mãe boliviana nascido na cidade boliviana de Santa Cruz de La Sierra, possuía dupla cidadania por conta das origens paternas. Começou a jogar futebol na base do Oriente Petrolero, e chegou ao Brasil em 2004, para jogar pela equipe do Vitória, em Salvador. À época com 17 anos, foi o primeiro nascido fora do país convocado pelas categorias de base da Seleção Brasileira, num amistoso contra a equipe mineira da Caldense e na Copa Sendai, competição sub-20 sediada no Japão, na qual marcou 2 gols em 3 partidas disputadas. Como tinha dupla nacionalidade por conta do pai e do local de nascimento, optou pela seleção profissional da Bolívia, onde tem menos concorrência e é convocado com regularidade até os dias de hoje.



Quando virá o Primeiro (Na era profissional)?
Como Marcelo Moreno disputou jogos apenas pelas categorias de base, e os outros três o fizeram antes da era do profissionalismo, até hoje nenhum atleta naturalizado realmente defendeu a camisa da seleção profissional principal do Brasil.


Andreas Pereira


Porém, isso pode estar prestes a mudar, já que Andreas Pereira, meio-campista de 18 anos do Manchester United nascido em Duffel, na Bélgica,  que passou pelas seleções belgas sub-15, sub-16 e sub-17 já declarou interesse em atuar pela seleção brasileira, e inclusive foi convocado pelo técnico das categorias de base da seleção brasileira Alexandre Gallo para a Panda Cup, torneio disputado na China. Se chegará a vestir a amarelinha em um jogo na equipe profissional, só o tempo dirá, mas é um fortíssimo candidato a inaugurar esta escrita.







Brasileiros pelo mundo

Por mais que muitos não vejam o Brasil como o “País do Futebol”, é inegável nossa fama com a bola nos pés pelos quatro cantos do mundo. Por isso, não faltam exemplos de atletas nascidos no Brasil que tenham optado por defender outras seleções nacionais, desde as mais fortes, como Alemanha (Cacau, Kurányi), Portugal (Deco, Liédson, Pepe), Espanha (Diego Costa, Marcos Senna), Itália (Amauri, Thiago Motta, e entre os antigos, Filó e Mazzola), passando pelas médias, como Turquia (Marco Aurélio, Wéderson), Tunísia (José Clayton, Francileudo Santos), Japão (Marcus Túlio Tanaka, Wagner Lopes, Alex Santos) e principalmente pelas pequenas, como Togo (Hamilton, Fabinho, Cris, Bill, Fábio Oliveira, Mikimba), Guiné Equatorial (Danilo, Ricardinho, William, Florian, Claudiney Rincón, Jônatas Obina, Nena, Neto, entre outros), Timor Leste (Ramon Saro, Paulo Helber, Wellington Rocha, Diogo Rangel, Murilo de Almeida, Ade, Alan Leandro, entre outros), Armênia (Marcos Pizzelli) e Moldávia (Henrique Luvannor). Longe de terem sido citados todos os brasileiros naturalizados, já é possível ter uma ideia do quão grande é o fenômeno com essa lista.

Wellington Rocha, do Timor Leste
Para conhecer um pouco mais sobre como é ser um naturalizado, entrevistamos o zagueiro Wellington Rocha, 23, atualmente sem clube e Fábio de Azevedo, o Fabinho, 37, aposentado há 4 anos. O primeiro defende a equipe do Timor Leste, enquanto o segundo atuou pela seleção do Togo.


Fabinho, Togo
O processo de naturalização pode ser algo natural, como qualquer pessoa que more por determinado tempo num país, pode ser feito por conta da árvore genealógica da família, e no caso, o jogador também pode ser “convidado” a se naturalizar. O técnico brasileiro Antônio Dumas, por exemplo, é conhecido por utilizar-se desse artifício, naturalizando mais de uma dezena de atletas brasileiros ao longo de suas passagens pelo comando da Guiné Equatorial e Togo. “O convite surgiu quando eu estava jogando na Chapecoense em 2003, e estavam disputando as Eliminatórias para a Copa Africana de 2004. Haviam requisitos diferentes, mas a única coisa que o presidente (da federação) queria mesmo era que eu tivesse a pele morena. Não tinha nenhuma relação particular com aquela nação, mas minhas origens são africanas, e com isso tudo ficou mais fácil”, relata Fabinho. “O treinador que estava à frente da seleção à época, Antônio Vieira, me fez o convite para eu me naturalizar e jogar lá. Aceitei, viajei para o Timor e estando lá iniciamos o processo burocrático, e já fui treinando com o grupo.”, conta Wellington.

Outro ponto importante no que tange o ato de defender uma equipe nacional é o fato de que se está representando o país, e consequentemente, sua população, sua cultura, e suas particularidades. Muitas das críticas feitas a jogadores naturalizados são baseadas nesse suposto distanciamento que há entre quem nasce e é criado em um local, e quem já chega a este local como um cidadão formado, afinal, boa parte da graça dos jogos entre seleções se dá por conta desse espírito e orgulho diferenciados que existem quando se defende o próprio país. Quando envolve-se dinheiro numa convocação, é natural que hajam desconfianças quanto à afinidade e à entrega que um atleta naturalizado irá aplicar em campo. Wellington comenta sobre isso, “Eu acho o ‘pagamento’ algo neutro e natural no futebol de seleções. Acho negativo a ausência de uma relação entre o atleta com o país. Quando aceitei o convite, sabia que minha vida iria mudar. Sempre sonhei em servir ao Brasil, mas jogar por uma seleção como o Timor é um privilégio, e por isso procurei acabar com todas as diferenças e me aprofundar e habituar ao país a ponto de me sentir de fato um timorense. Pela forma como fui recebido, pelo clima parecido com o Brasil, a semelhança entre os povos, fui me interessando cada vez mais pelo país, e viajo todos os anos e fico meses por lá, me sentindo em casa.”. Fabinho também conta não ver desvantagens para um naturalizado, “Busquei conhecer a cultura local, era simples mas de muito aprendizado para nós cinco que formávamos a delegação brasileira. Não acho que hajam desvantagens em atuar por uma seleção na qual se é naturalizado. Profissionalmente falando, na hora do jogo todos querem ganhar, e é isso que importa. Até hoje acompanho tudo que se passa no futebol de minha segunda nação, as eliminatórias, os atletas.”.


Toda essa desconfiança em relação ao envolvimento do atleta com a camisa que veste pode acabar sendo revertida em um tratamento diferenciado por parte da imprensa, torcida e até mesmo dos próprios companheiros de time. Quando o brasileiro Marcos Aurélio completou cinco anos morando no país e decidiu ser o primeiro jogador a se naturalizar para defender a seleção da Turquia, enfrentou grande resistência de pessoas que não acreditavam que aquilo poderia dar certo. No fim das contas, o brasileiro mudou de nome, aprendeu a falar turco e cantar o hino nacional e teve seu esforço reconhecido pelo povo turco. Com isso podemos perceber que um jogador naturalizado acaba sim tendo que percorrer um caminho mais difícil que os demais companheiros de seleção, já que não tem que provar o que sabe fazer dentro de campo, mas fora dele e no seu comportamento também. Além disso, a presença de um naturalizado pode ser vista como um “roubo” de vaga de algum atleta da casa, sem falar em países no qual o preconceito e a xenofobia infelizmente são enraizados até mesmo entre os próprios jogadores. Porém, Fábio conta que se dava bem com seus colegas de seleção, “havia uma relação muito boa com os outros jogadores, praticamente de irmão. Receberam os brasileiros muito bem, e com muito respeito.”, e Wellington conta que sentiu um tratamento diferenciado, mas de outra maneira, “Eu era novo por lá e todos ficavam muito procupados com meu bem estar, me tratando de forma ‘diferente’. Com o passar do tempo perceberam meu jeito tranquilo e hoje me tratam igual a todos os atletas. Quanto à torcida, eu ainda sinto que a cobrança é um pouco maior sobre mim, mas vejo como algo positivo, já que me motiva”.

Claro que não poderia faltar a pergunta que mesmo sendo muito simples, sintetiza, resume e diz muito acerca da questão das naturalizações:

“Num jogo entre o país que você defende e o Brasil, você torceria para quem?”

Fabinho esquiva: “No lado profissional, sempre Togo. Mas amo minha nação”.

Já Wellington é mais direto: “Nasci no Brasil, mas defendo com orgulho as cores do Timor. Estando dentro ou fora de campo, Timor Leste sem dúvida!”.